Ser conservador-restaurador é quase como ser médico: um médico de obras de arte - analogia um tanto ou quanto cliché utilizada por alguns conservadores-restauradores, mas que achamos conseguir resumir bem ao público em geral as funções do conservador-restaurador.Tal como um médico tem de conhecer muito bem o seu paciente antes de poder prescrever um determinado tratamento pedindo, para tal, uma série de exames e análises a que o doente terá de se submeter; também um conservador-restaurador deve conhecer até ao mais ínfimo pormenor os bens culturais e obras de arte que tem em mãos antes de agir sobre eles, o que passa pelo estudo e observação aprofundados das obras de arte.
Para o estudo das obras de arte utilizam-se meios auxiliares simples, como lupas ou determinado tipo de luz mais adequado, numa primeira fase; mas também alguns equipamentos e exames mais complexos, em fases mais avançadas do estudo, e que envolvem conhecimentos de química e de física, por exemplo.
A grande amálgama de equipamentos e aparelhos que se podem ver por estes dias através da porta gradeada do baptistério da Igreja de São João Baptista serve para isso mesmo: para estudar o mais detalhadamente possível o Tríptico da Vida de Cristo; e para que desta forma este possa, a seguir, ser intervencionado o mais correctamente possível.
Tríptico da Vida de Cristo em estudo. (Foto: Erica Eires) |
Muitos parabéns pelo blog, acho a ideia deste formato de registo excelente.
ResponderEliminarNo entanto, penso que falta aqui referir alguns aspectos fundamentais para a compreensão da obra e da intervenção, incluindo:
- quais os valores da obra (significância)?
- qual o seu contexto (presente e futuro, pelo menos)? Ou, se preferir, para quem e para quê será o Tríptico restaurado?
- qual(is) o(s) objectivo(s) da intervenção (e quem os definiu)? Ou, se preferir, que valores foram considerados mais importantes (e por quem)?
A analogia com a medicina é por vezes útil, sem dúvida, desde que não nos esqueçamos que os pacientes (enfim, na maioria dos casos) podem descrever a condição em que estão e a condição em que gostariam de estar (que, contrariamente ao que se possa pensar, não é a mesma para toda a gente).
Outra nota, apenas uma pequena observação: O fragmento "Para o estudo das obras de arte" seria mais correctamente escrito como "Para o estudo material das obras de arte", na minha opinião. Porque nem só de matéria vivem as obras, e nunca é demais lembrá-lo.
Votos de bom trabalho!
Caro(a) MJ, agradeço pelas suas observações que passo, desde já, a comentar.
EliminarO blogue foi criado com o objectivo especifico de registar e de dar a conhecer à comunidade aquilo que está a acontecer na semana, se não no dia, das publicações. As questões que coloca estão intrinsecamente relacionadas com o estudo que está a ser feito destinando-se, por isso, a ser abordadas em locais mais adequados para o efeito, nomeadamente a minha dissertação de mestrado, comunicações em encontros científicos, artigos em revistas científicas, e ainda nas diversas acções de divulgação que vierem a ser efectuadas no final do estudo. Na devida ocasião, também estas publicações e acontecimentos serão divulgados aqui no blogue.
Quanto ao uso dos meios laboratoriais "para o estudo das obras de arte", evidentemente que se aplicam à componente material, mas não deixam igualmente de contribuir para o estudo geral das obras de arte e, não raro, proporcionam informações que, se forem bem interpretadas, vão muito para além dos aspectos materiais.